terça-feira, 17 de novembro de 2009

O Macaco de Rabo Cortado

Macaco:
Mas que grande barafunda
E que enorme indecisão!
Foi o bastante, acreditem,
Para toda esta confusão!

Narrador:
Era uma vez um macaco que tinha um rabo muito comprido, que achava muito bonito. Um dia, ao passear pela rua, passou perto de um parque, onde muitas crianças se divertiam a brincar. Uma delas reparou no comprimento do rabo do macaco e disse aos seus amigos:

Crianças:
- Olhem, olhem ali… Já viram o tamanho do rabo deste macaco?

Narrador:
Cheio de vergonha, o macaco pensou:

Macaco:
Depois disto, só vos digo
Fiquei muito envergonhado!
A seguir ao meu orgulho,
Passei mesmo um mau bocado.

Narrador:
Decidiu, então, ir até à barbearia que havia ali por perto e pediu ao barbeiro:

Macaco:
- Amigo barbeiro, com a sua navalha, corte-me este rabo… Está comprido demais!

Narrador:
O barbeiro nunca tinha ouvido um pedido destes, mas fez-lhe a vontade na mesma.
Ao passar novamente pelo parque, o macaco não passou despercebido e as crianças não queriam acreditar no que ele tinha feito:

Macaco:
- Ah, ah, ah! Olha o macaco do rabo cortado!

Narrador:
Envergonhado foi ter com o barbeiro e disse-lhe:

Macaco:
Já estou arrependido,
Quero o rabo outra vez.
Estou farto de ser gozado…
Afinal, o que lhe fez?

Narrador:
Mas não havia solução, o rabo tinha ido para o lixo. Furioso, o macaco decidiu:

Macaco:
- Se não me dás o meu rabo, eu tiro-te a navalha!

Narrador:
Sem o rabo, mas com a navalha, o macaco continuou o seu caminho.
Ao passar ela praça, uma peixeira reparou na navalha do macaco e propôs-lhe:

Peixeira:
- Ó freguês, não me quer dar a sua navalha para eu arranjar o meu peixe?

Narrador:
O macaco não pensou duas vezes e deu-lhe a navalha mas, pouco depois, apeteceu-lhe tê-la de volta. Voltou atrás, para pedir à peixeira que, sem palavras, só conseguiu dizer-lhe:

Peixeira:
A navalha desapareceu
P’ra dentro deste buraco…
Não há qualquer solução,
Querido amigo macaco!

Narrador:
Muito irritado, o macaco resolveu:

Macaco:
- Se não me dás a minha navalha, eu tiro-te umas sardinhas!

Narrador:
Sem rabo e sem navalha, mas com umas sardinhas, o macaco fugiu numa grande correria.
Ao chegar junto a um moinho, encontrou uma padeira a comer o pão que tinha acabado de cozer e perguntou-lhe:

Macaco:
- Será que esse pão não lhe sabia melhor com estas sardinhas? Em troca, quero apenas um desses pães.

Narrador:
Assim foi, e o macaco seguiu o seu passeio, todo contente por ter ganho um pão muito quentinho. No entanto, ao provar o pão sem mais nada, o macaco lembrou-se das suas sardinhas e decidiu ir ter de novo com a padeira para lhe pedir aquele petisco de volta. Ela apenas disse:

Padeira:
Não há nada a fazer…
Com as tuas belas sardinhas.
Acabei de as comer
Estão na minha barriguinha!

Narrador:
O macaco ficou descontrolado:

Macaco:
- Se não me dás as minhas sardinhas, eu tiro-te um saco de farinha!

Narrador:
Sem rabo, sem navalha e sem sardinhas, o macaco pegou num dos sacos de farinha que havia naquele moinho e desapareceu rapidamente.
No caminho, parou perto de uma escola para descansar, pois o saco era muito pesado. Quando viu a professora decidiu oferecer-lhe toda aquela farinha:

Macaco:
- Senhora professora, aqui tem um saco de farinha que lhe ofereço de presente!

Narrador:
Depois de avançar um pouco, o macaco arrependeu-se da oferta que tinha feito. Então, voltou à escola e pediu à professora o seu saco com a farinha de volta. Ela respondeu:

Professora:
Usámos a tua farinha,
Não a posso devolver…
Fizemos bolos e biscoitos
Que acabamos de comer.

Narrador:
O macaco não queria acreditar que isto lhe estava a acontecer outra vez e, muito zangado, disse à professora:

Macaco:
- Se não me dás o meu saco de farinha, eu tiro-te um livro!

Narrador:
Sem rabo, sem navalha, sem sardinhas e sem farinha, o macaco foi-se embora, desta vez, com um livro.
Mais à frente, encontrou um rapaz que estava na rua a fazer violas e decidiu deixar-lhe o seu livro.
Ao prosseguir o seu caminho, apeteceu-lhe parar para ler. Então resolveu voltar junto do rapaz que, surpreendido, respondeu:

Rapaz:
Tornei a levar p’rá escola
O livro que me deixaste.
Há bocado não o querias…
Agora é que te lembraste?

Narrador:
Desiludido e ofendido, o macaco reagiu de imediato:

Macaco:
- Se não me dás o meu livro, eu tiro-te uma viola!

Narrador:
Sem rabo, sem navalha, sem sardinhas, sem farinha e sem livro, o macaco foi-se embora, desta vez, com uma viola.
Fugiu rua acima. Subiu a uma árvore e recordou toda a confusão deste dia. Restava-lhe a viola, por isso achou que o melhor era aproveitá-la, tocar um pouco e cantar para esquecer:

Macaco:
Quem havia de dizer
Como eu sou azarado!
Tudo isto aconteceu
Por mandar cortar o rabo.

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